quinta-feira, 22 de maio de 2008

DIA 04 - SOBRE HOMENS E MOTOCICLETAS...

Buenas! Dia 04 da viagem concluído e 4 estados percorridos (Illinois, Missouri, Kansas e Oklahoma), resolvemos desacelerar hoje. Estamos a cerca de 150 milhas de Amarillo no Texas, que fica praticamente no meio do caminho entre Chicago e Los Angeles e decidimos nos dar um refresco e repor as energias para começar com força a segunda metade da Rota. Ontem chegamos praticamente à fronteira de Oklahoma com o Texas, e o melhor é que estamos praticamente fora da rota dos tornados e a atravessamos com 100% de tempo bom. Hoje seguiremos a Amarillo com calma, chegaremos lá mais cedo e, seguramente, a tempo de ver o Cadillac Ranch (uma das grandes atrações da rota, vários cadillacs enfileirados no chão, com a mesma inclinação das pirâmides do Egito... coisa de milionário americano...) e de apostar todas as fichas no Montanha quando chegarmos ao Big Texan, um restaurante em Amarillo que serve um churrasco de 2 quilos que se for comido em menos de uma hora, sai de graça! Temos certeza de que o Montanha não nos desapontará e vai mandar os dois quilos de carne mole, mole, deixando espaço pra chamar a garçonete no final e pedir mais pão... :-D

Ontem rodamos cerca de 270 milhas, já passamos das 1000 milhas rodadas na Route. A viagem prossegue sem sobressaltos e sem sustos. Começamos o dia em Claremore e pouco depois da saída já chegamos a outro cartão postal da Route, o Parque da Baleia (todo mundo já viu uma foto de uma baleia azul que parece abandonada no meio de um lago... daqui a pouco vou postar uma dessas... hehe), que era uma grande atração da região na década de 60 mas hoje permanece ali apenas para contar a história. Ao longo do dia, cruzamos muitos quilômetros de paisagens agrárias em trechos aparentemente originais da Rota 66, com asfalto em boas condições, embora antigo, e sem demarcação. Visitamos dois museus da Rota, o primeiro próximo a Oklahoma City, que era uma espécie de museu interpretativo, porque eles fizeram uma tentativa de colocar os visitantes no ambiente da Rota original reproduzindo assentos de carro e camas de motel da época, onde o visitante se sente e/ou deita para assistir a filmes que contam a história da Rota. O segundo, em Clinton, já no final do trecho de ontem, reunindo todo tipo de badulaque e memorabília da Rota. Também passamos pelo trecho mais remoto da rota até agora. Remoto porque a maior parte da Old 66 margeia as rodovias Interestaduais, mas neste trecho, nos afastamos bem da I-55 e percorremos várias milhas numa paisagem bem rural, com velhos postos abandonados e alguns restaurados para fotos dos viajantes. E a partir de hoje, entramos na parte da Rota que reúne mais atrativos e atrações, o que nos dá a certeza de que o melhor ainda está por vir!

Muito bem, e depois de tudo isso, ainda não falei sobre o título do post de hoje (ninguém deve ter entendido nada até aqui...). Mas este é o título de um livro que vou escrever um dia reunindo não as fotos e narrativas de viagem, mas as reflexões que inevitavelmente invadem a mente de quem pilota uma motocicleta por longos trechos, reflexões estas que se tornaram assunto nas nossas conversas de ontem no bar (aliás, permanece a rotina... em todo lugar que paramos bebemos por conta de americanos que surgem, querem fazer amizade e nos pagar bebidas. Foi assim anteontem em Claremore, num bar do lado do hotel, onde tomamos buds e shots de jaggermaister – não tenho certeza de que se escreva desta forma – por conta de dois figuras, sendo que um deles insistiu para que ficássemos por lá no dia seguinte para que ele fizesse uma festa na casa dele em nossa homenagem, e ontem, aqui em Elk City, onde nos pagaram cervejas e drinques aos montes). Longas viagens em duas rodas são uma espécie de consultório móvel de terapia. A estrada obriga o motociclista a entrar em contato consigo mesmo. A cabeça fica vazia, os problemas na maioria das vezes fúteis e banais que nos ocupam no dia a dia ficam pra trás e aquilo que “deixamos de lado” mas que constitui a essência de muitos dos problemas verdadeiros e das questões relevantes com as quais deveríamos nos ocupar invadem a mente de forma inexorável. Não há pra onde fugir, não há subterfúgios supérfluos para ocupar a cabeça, não há como escapar do contato consigo mesmo. E esta experiência é fantástica. Frequentemente comentamos que quem se envolve em longas viagens de moto, jamais volta de uma viagem igual a quando saiu. No mínimo, volta se conhecendo mais e melhor, e tendo uma percepção mais aguçada acerca do que é essencial ou periférico. Não raro, mencionamos momentos em que choramos, gritamos, cantamos, falamos sozinhos e extravasamos emoções num íntimo auto-contato em cima da moto.

Em viagens como esta, em que estamos num grupo relativamente grande que terá que se suportar por 15 dias, ainda temos um benefício adicional, que é exercitar intensamente a arte do relacionamento. Somos obrigados a contemporizar diferenças, a sermos empáticos, aprendemos a colocar sempre o interesse do grupo acima do individual, a ter sensibilidade (engraçado falar em sensibilidade num grupo de 7 ogros cruzando os EUA pilotando Harleys...). Em um período longo como este (15 dias), não há como representar papéis. Máscaras caem e o verdadeiro ser humano por trás de cada ogro aparece. E isto, para quem tem sabedoria (e APENAS para quem tem sabedoria...), traz a oportunidade única de construir amizades sólidas sobre bases firmes, autênticas, desinteressadas (como as que estamos, de fato, construindo e consolidando ao longo desta road trip). Ninguém aqui usa crachá, ninguém aqui tem mais ou menos dinheiro, mais ou menos poder ou o que quer que seja. Aqui, somos apenas o que de fato somos. E é neste momento que, para usar um velho e surrado chavão, os homens se diferenciam dos meninos...

E agora, chega desse papo existencialista que nem eu to me agüentando... É hora de voltar pra estrada!!!!!! :-D

2 comentários:

Anônimo disse...

"...o Montanha não nos desapontará e vai mandar os dois quilos de carne mole..." <-NOMES!!!!!

Anônimo disse...

...nossa! por um curto momento, pensei que não fossem os mesmos "meninos"!! :))